Por Goal.com
Depois de enfrentar uma debandada e os campos da segunda divisão,
Juventus ressurge como potência não só na Itália, mas também na Europa.
Eram 42 minutos do segundo tempo. O ano era 2006.
Em campo, com a adrenalina latejando, um volante brasileiro nascido na distante
cidade gaúcha de Pelotas não tinha tempo de pensar que sua equipe estava sendo
eliminada.
Então, depois de um cruzamento, um companheiro
sueco cabeceia para o meio da área e o pelotense emenda uma meia bicicleta
torta, com a perna ruim, mas que balança a rede do adversário alemão,
decretando a classificação e a explosão coletiva.
Sete anos depois, em 2013, as coisas foram mais fáceis.
Passeando em dois jogos contra o Celtic, a Juventus de Turim aplicou, no
agregado, 5x0. Foi como quem dar um mergulho na praia, garantindo a
classificação para as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, o que
aconteceu pela primeira vez desde aquele 7 de março de 2006.
Emerson foi o autor do gol que havia deixado a
Vecchia Signora entre os 8 melhores times da Europa pela última vez. A
classificação foi apertada: contra o Werder Bremen, na Alemanha, a Juve vencia
por 2x1, de virada, até os 37 minutos do segundo tempo, mas o Werder ainda
achou forças –e tempo– para reagir e reverter os números para 3x2.
O jogo de volta foi no Delle Alpi, então a casa dos
bianconeri. Para dificultar ainda mais as coisas, os alemães abriram o placar
com o francês Micoud. Coube então ao francês Trezeguet empatar e a Emerson
virar o jogo. No placar agregado, 4x4 e a classificação no maior número de gols
marcados fora de casa.
Não que ida as quartas a fórceps tenha adiantado
muito. Os italianos duraram menos de um mês na competição europeia, sendo
desclassificados pelo futuro vice-campeão Arsenal; no entanto, no dia 14 de
maio, com gols de Trezeguet e Del Piero, em partida contra o Reggina, a
Juventus erguia seu 29 Scudetto, encastelando-se na posição de maior vencedor
da Itália.
Mas o castelo da Juventus, apesar de bonito e bem
construído, era de areia.
Depois de uma onda de denúncias que inundou a
Itália, sobraram apenas os escombros da antes invejável torre bianconera.
O escândalo, chamado de Calciopoli, ou Calciocaos,
atingiu não só a equipe de Turim, mas também Milan, Fiorentina, Lazio e
Reggina. Ligações telefônicas interceptadas mostraram um esquema entre
dirigentes dos clubes e os árbitros. A Vecchia Signora acabou sendo a mais
afetada, já que seus cartolas Luciano Moggi e Antonio Giraudo estavam
diretamente envolvidos no esquema; o primeiro foi banido do futebol pelo resto
da vida.
Assim, a Juve pagou um preço caro: a cassação dos
títulos de 04/05 e 05/06 e o descenso à Série B da Itália, jogando no lixo uma
campanha histórica com 91 pontos. Inicialmente, a equipe iria parar no mínimo
na Série C ou mais abaixo, mas a pena foi reduzida. O rebaixamento também
causou a debandada de um elenco estelar: nomes como Ibrahimovic, Thuram,
Cannavaro e Emerson não ficaram para jogar a segundona e foram parar em equipes
como Real Madrid, Barcelona e até mesmo em rivais diretos como a Inter de
Milão. Dos grandes nomes da equipe, ficaram os ídolos Del Piero, Buffon e
Nedved, mais Camoranesi e Trezeguet.
Sob o comando de Didier Deschamps, o retorno à
Série A, como esperado, ocorreu sem sobressaltos, liderando a competição com 85
pontos e apenas 4 derrotas, sendo duas delas nas últimas duas rodadas, mais o
melhor ataque disparado e a segunda melhor defesa. Os outros dois promovidos
foram o Napoli e Genoa.
Na temporada 2007/2008, com Claudio Ranieri no
comando, de volta ao seu lugar de direito, a Juventus não fez feio, apesar de
não ter disputado o título, vencido pela Inter: um digno terceiro lugar,
colocando a equipe na Liga dos Campeões da temporada seguinte. Em 2008/2009,
com o brasileiro Amauri no elenco, os bianconeri foram ainda mais longe:
vice-campeões italianos e semifinalistas da Copa da Itália. Se o último título
ainda era o da série B, a Juve pelo menos parecia estar de volta no caminho das
conquistas.
Assim, o clube investiu pesado para 2009/2010,
trocando de treinador e gastando mais 50 milhões de euros apenas em dois
brasileiros: o meia Diego, ex-Santos, e o volante Felipe Melo. Luigi Delneri
assumiu o comando da equipe. Depois de uma passagem não muito memorável pelo
Real Madrid, quem retornou a Turim de graça foi Cannavaro, eleito o melhor
jogador do mundo em 2006, depois de levantar o tetracampeonato do mundo com a
Itália, justamente na época do escândalo Calciopoli.
Apesar do dinheiro gasto, os resultados não vieram:
desclassificação na primeira fase da Liga dos Campeões e um medíocre sétimo
lugar na Série A. Na temporada seguinte, 10/11, as coisas não engrenaram, com a
repetição do sétimo lugar no Campeonato Italiano.
Para 11/12, o jovem presidente Andrea Agnelli
promoveu mudanças: saiu Delneri e entrou em seu lugar Antonio Conte, ex-jogador
que passou de 1991 a 2004 na Juventus, time pelo qual venceu 14 títulos, sendo
5 da Série A e uma Liga dos Campeões. Em 1994, ele fez parte da seleção
italiana que perdeu a Copa do Mundo para o Brasil.
Novamente a Juventus gastou os tubos com
transferências: por volta de 90 milhões de euros foram usados para formar a
equipe, levando nomes como Vidal, Matri e Quagliarella; apesar disso, a maior
contratação foi justamente a que não custou nada: Andrea Pirlo saiu do Milan
dizendo-se em busca de novos desafios e foi para a Juventus.
Outra novidade na Vecchia
Signora foi o novíssimo Juventus
Stadium, com capacidade para 41 mil pessoas, inaugurado em setembro de 2011. Os
bianconeri se tornaram os únicos da Série A italiana a ter um estádio próprio:
todos os outros times jogam em estádios públicos.
Esses três fatores podem ser elencados como
fundamentais para a brilhante campanha do time na temporada passada: campeão
invicto da Série A, com 84 pontos, quatro a mais que o segundo colocado Milan,
conquistados com 23 vitórias e 15 empates.
Com uma equipe muito sólida e regular, os pontos
fortes da Juve são a defesa, comandado por Buffon e Chiellini, e o meio-campo
que tem em Andrea Pirlo o maestro, mas outros jogadores como Marchisio e Vidal
também são de importância vital para a engrenagem juventina. O ataque é o setor
que mais preocupa, e para isso foi contratado na última janela o veterano
Nicolas Anelka. Fernando Llorente, do Atlético de Bilbao, também já está
contratado, mas só chegará a Turim para a próxima temporada.
E agora, seis anos depois, a Juve volta a ser candidata
ao título da Liga dos Campeões. De quebra, ainda lidera novamente o Italiano,
com 62 pontos, 9 a mais que o segundo colocado Napoli. Dependendo do adversário
das quartas de final, os bianconeri podem ter um caminho razoavelmente
tranquilo até as semifinais para, quem sabe, voltar ao topo da Europa.