Por Fernanda Massarotto, da PLACAR
Aos 33 anos, Andrea Pirlo esbanja vigor e categoria e faz a Juventus voltar a ser, de novo, o maior time da Itália
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Pirlo: categoria dentro e fora de campo |
Se há um fantasma que tumultua o sono hoje dos dirigentes do Milan,
ele atende pelo nome de um velho conhecido da família rossonera: Andrea
Pirlo. O volante que por dez anos embalou os melhores sonhos milaneses
(conquistando duas Ligas dos Campeões, um Mundial de Clubes, dois
Campeonatos Italianos e duas Supercopas Europeias) aparece agora vestido
de alvinegro, as cores de seu novo clube, a Juventus de Turim. Os
torcedores do Milan olham para o time em crise técnica, empacado no
Campeonato Italiano, e se perguntam: por que o deixaram sair?
Aos 33 anos, Pirlo levou a Vecchia Signora ao scudetto da última
temporada, liderou a Itália vice-campeã da Eurocopa e mira mais uma Copa
do Mundo — será a terceira de sua carreira. “Quero muito poder jogar
esse Mundial no Brasil”, afirma o volante, que na última Euro foi peça
fundamental para a equipe italiana graças à movimentação em campo, às
bolas paradas e às assistências de altíssimo nível.
A saída de Pirlo de Milão foi coberta de polêmicas. Os boatos iam da
renovação de seu contrato — o Milan propunha um ano, ele queria três —
até problemas com o técnico rubro-negro Massimiliano Allegri. O volante,
porém, minimiza. “A decisão de deixar o Milan foi única e
exclusivamente minha. Achei que era o momento de mudar, de mostrar para
mim mesmo que eu ainda tinha um grande futebol nos pés e que seria
importante em um time de grande porte e com um projeto ambicioso.”
O “risco” valeu a pena. A Juventus foi campeã nacional, venceu a
Supercopa italiana e voltou ao rol dos times importantes que disputam a
Liga dos Campeões. “Pirlo pode ser considerado a alma da Juventus. Suas
bolas paradas e seus dribles fizeram a diferença em cada jogo. O Milan
cometeu um dos maiores erros de mercado da temporada passada”, afirma
Sebastiano Vernazza, analista da Gazzetta dello Sport, que cobre a seleção italiana de futebol.
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Como o vinho: Pirlo em ação pela seleção italiana na última Eurocopa:
aos 33 anos, foi um dos melhores do torneio, levando a Itália ao
vice-campeonato |
Tímido e de poucas palavras, Andrea Pirlo não é um personagem que
rende títulos em revistas e jornais. A vida fora dos campos é pacata.
Além do convívio familiar — é casado e pai de dois filhos —, o volante,
há alguns anos, abriu a vinícola “Pratum Coller”, onde, com o pai, Luigi
Pirlo, produz vinho de excelente qualidade próximo a sua cidade natal,
Brescia. E foi justamente no Brescia, seu primeiro time, que o jovem
jogador deu seus primeiros chutes profissionais. De 1994 a 2001, passou
pela Internazionale de Milão e pelo Reggina até voltar ao Brescia, em
2001, por empréstimo, sempre jogando avançado, como meia. Foi então que o
mítico técnico Carlo Mazzone, detentor do recorde de 795 jogos oficiais
na Serie A italiana, resolveu colocá-lo como volante. “Essa mudança foi
essencial na carreira de Pirlo. Ele passou a jogar no meio-campo
retraído. Naquele mesmo ano, o Brescia tinha no ataque o excepcional
Roberto Baggio”, diz Vernazza. Nascia um dos melhores jogadores naquela posição da história da Itália.
Ainda sob contrato com a Internazionale, Pirlo viu seu passe ser
vendido ao arquirrival Milan. No mesmo ano, o clube rubro-negro trazia
para o comando Carlo Ancelotti, técnico que deu espaço ao novo volante. A
parceria foi um sucesso de títulos e marcou a carreira do jogador
italiano. No ano seguinte, com um esquema tático 4-3-1-2 e com Pirlo
“guiando” a defesa com Gattuso e Seedorf, o Milan conquistou a Liga dos
Campeões de 2002-03. A boa relação de Andrea Pirlo com seus treinadores
pôde ser sentida também em 2006, quando, titular absoluto da seleção
italiana de Marcello Lippi, ganhou a Copa do Mundo, na Alemanha, e viu
seu nome figurar em nono lugar na lista para a Bola de Ouro da Fifa. Com
o atual técnico da Juventus, Antonio Conte, o volante é peça-chave no
esquema de jogo do time alvinegro.
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“Velho senhor”: Pirlo comemora seu gol diante do Parma em partida da serie a de 2012: símbolo do renascimento da Juventus |
Pirlo teria um técnico preferido? Ele fica em cima do muro. “É
simplesmente impossível classificar quem é o melhor. Tenho uma excelente
relação com todos eles: Ancelotti foi meu treinador por muitos anos e
com ele conquistei vitórias importantes. Lippi me deu a oportunidade de
ganhar uma Copa do Mundo, um título que não se leva para casa todos os
dias. Conte é o responsável juntamente com todo o time da Juventus por
estarmos fazendo algo extraordinário e único.” A recíproca é verdadeira.
Marcello Lippi recentemente afirmou: “Pirlo? É meu candidato para a
Bola de Ouro”. Cesare Prandelli, atual técnico da seleção italiana,
também não poupa elogios. “É um campeão, um jogador de grande classe e
um exemplo para os demais companheiros”, afirmou durante a Eurocopa, em
junho passado. A seleção italiana perdeu a final para a Espanha por 4 x
0, mas mostrou uma nova geração de jovens talentos como os atacantes
Mattia Destro, da Roma, e Lorenzo Insigne, do Napoli. Outra revelação, o
volante Marco Verratti, do PSG, vem sendo considerado pela imprensa
italiana o novo Pirlo. “Antes de mais nada, não gosto do título de
herdeiro. É muito perigoso porque sobrecarrega o jovem em questão. O
senso de responsabilidade e as expectativas podem minar sua capacidade”,
diz Pirlo. “Eu acredito que o importante é observar com atenção esses
grandes talentos e dar tempo para que amadureçam e encontrem seu próprio
futebol.”
O respeito com que fala dos novatos faz do volante da Juventus o
líder legítimo da seleção italiana. É um conselheiro, por exemplo, do
craque-encrenca Mario Balotelli. “Mario é um excelente atacante e, tenho
certeza, com o tempo seu momento de amadurecimento chegará.”
É por essas razões que o futebol italiano não quer que seu melhor
volante pendure as chuteiras tão cedo. “Não sei quando e onde vou
encerrar minha carreira. Neste momento, penso somente em jogar, pois me
sinto bem e me divirto muito com meus companheiros de clube”, diz. “Para
dizer a verdade, não sou do tipo que se preocupa com o que pode se
passar com minha vida profissional. Por exemplo, a vontade de jogar no
futebol inglês foi um sonho que nunca se concretizou. Hoje sou um
jogador da Juventus e só penso no meu time”, afirma Pirlo. Mas o Milan
continua pensando nele.