terça-feira, 23 de outubro de 2012

Maestro Elegante: Andrea Pirlo faz a Juventus voltar a ser, de novo, o maior time da Itália


Por Fernanda Massarotto, da PLACAR

Aos 33 anos, Andrea Pirlo esbanja vigor e categoria e faz a Juventus voltar a ser, de novo, o maior time da Itália

Pirlo: categoria dentro e fora de campo
 
Se há um fantasma que tumultua o sono hoje dos dirigentes do Milan, ele atende pelo nome de um velho conhecido da família rossonera: Andrea Pirlo. O volante que por dez anos embalou os melhores sonhos milaneses (conquistando duas Ligas dos Campeões, um Mundial de Clubes, dois Campeonatos Italianos e duas Supercopas Europeias) aparece agora vestido de alvinegro, as cores de seu novo clube, a Juventus de Turim. Os torcedores do Milan olham para o time em crise técnica, empacado no Campeonato Italiano, e se perguntam: por que o deixaram sair?

Aos 33 anos, Pirlo levou a Vecchia Signora ao scudetto da última temporada, liderou a Itália vice-campeã da Eurocopa e mira mais uma Copa do Mundo — será a terceira de sua carreira. “Quero muito poder jogar esse Mundial no Brasil”, afirma o volante, que na última Euro foi peça fundamental para a equipe italiana graças à movimentação em campo, às bolas paradas e às assistências de altíssimo nível.

A saída de Pirlo de Milão foi coberta de polêmicas. Os boatos iam da renovação de seu contrato — o Milan propunha um ano, ele queria três — até problemas com o técnico rubro-negro Massimiliano Allegri. O volante, porém, minimiza. “A decisão de deixar o Milan foi única e exclusivamente minha. Achei que era o momento de mudar, de mostrar para mim mesmo que eu ainda tinha um grande futebol nos pés e que seria importante em um time de grande porte e com um projeto ambicioso.”

O “risco” valeu a pena. A Juventus foi campeã nacional, venceu a Supercopa italiana e voltou ao rol dos times importantes que disputam a Liga dos Campeões. “Pirlo pode ser considerado a alma da Juventus. Suas bolas paradas e seus dribles fizeram a diferença em cada jogo. O Milan cometeu um dos maiores erros de mercado da temporada passada”, afirma Sebastiano Vernazza, analista da Gazzetta dello Sport, que cobre a seleção italiana de futebol.

Como o vinho: Pirlo em ação pela seleção italiana na última Eurocopa: aos 33 anos, foi um dos melhores do torneio, levando a Itália ao vice-campeonato
Tímido e de poucas palavras, Andrea Pirlo não é um personagem que rende títulos em revistas e jornais. A vida fora dos campos é pacata. Além do convívio familiar — é casado e pai de dois filhos —, o volante, há alguns anos, abriu a vinícola “Pratum Coller”, onde, com o pai, Luigi Pirlo, produz vinho de excelente qualidade próximo a sua cidade natal, Brescia. E foi justamente no Brescia, seu primeiro time, que o jovem jogador deu seus primeiros chutes profissionais. De 1994 a 2001, passou pela Internazionale de Milão e pelo Reggina até voltar ao Brescia, em 2001, por empréstimo, sempre jogando avançado, como meia. Foi então que o mítico técnico Carlo Mazzone, detentor do recorde de 795 jogos oficiais na Serie A italiana, resolveu colocá-lo como volante. “Essa mudança foi essencial na carreira de Pirlo. Ele passou a jogar no meio-campo retraído. Naquele mesmo ano, o Brescia tinha no ataque o excepcional Roberto Baggio”, diz Vernazza. Nascia um dos melhores jogadores naquela posição da história da Itália.

Ainda sob contrato com a Internazionale, Pirlo viu seu passe ser vendido ao arquirrival Milan. No mesmo ano, o clube rubro-negro trazia para o comando Carlo Ancelotti, técnico que deu espaço ao novo volante. A parceria foi um sucesso de títulos e marcou a carreira do jogador italiano. No ano seguinte, com um esquema tático 4-3-1-2 e com Pirlo “guiando” a defesa com Gattuso e Seedorf, o Milan conquistou a Liga dos Campeões de 2002-03. A boa relação de Andrea Pirlo com seus treinadores pôde ser sentida também em 2006, quando, titular absoluto da seleção italiana de Marcello Lippi, ganhou a Copa do Mundo, na Alemanha, e viu seu nome figurar em nono lugar na lista para a Bola de Ouro da Fifa. Com o atual técnico da Juventus, Antonio Conte, o volante é peça-chave no esquema de jogo do time alvinegro.

“Velho senhor”: Pirlo comemora seu gol diante do Parma em partida da serie a de 2012: símbolo do renascimento da Juventus
Pirlo teria um técnico preferido? Ele fica em cima do muro. “É simplesmente impossível classificar quem é o melhor. Tenho uma excelente relação com todos eles: Ancelotti foi meu treinador por muitos anos e com ele conquistei vitórias importantes. Lippi me deu a oportunidade de ganhar uma Copa do Mundo, um título que não se leva para casa todos os dias. Conte é o responsável juntamente com todo o time da Juventus por estarmos fazendo algo extraordinário e único.” A recíproca é verdadeira. Marcello Lippi recentemente afirmou: “Pirlo? É meu candidato para a Bola de Ouro”. Cesare Prandelli, atual técnico da seleção italiana, também não poupa elogios. “É um campeão, um jogador de grande classe e um exemplo para os demais companheiros”, afirmou durante a Eurocopa, em junho passado. A seleção italiana perdeu a final para a Espanha por 4 x 0, mas mostrou uma nova geração de jovens talentos como os atacantes Mattia Destro, da Roma, e Lorenzo Insigne, do Napoli. Outra revelação, o volante Marco Verratti, do PSG, vem sendo considerado pela imprensa italiana o novo Pirlo. “Antes de mais nada, não gosto do título de herdeiro. É muito perigoso porque sobrecarrega o jovem em questão. O senso de responsabilidade e as expectativas podem minar sua capacidade”, diz Pirlo. “Eu acredito que o importante é observar com atenção esses grandes talentos e dar tempo para que amadureçam e encontrem seu próprio futebol.”

O respeito com que fala dos novatos faz do volante da Juventus o líder legítimo da seleção italiana. É um conselheiro, por exemplo, do craque-encrenca Mario Balotelli. “Mario é um excelente atacante e, tenho certeza, com o tempo seu momento de amadurecimento chegará.”

É por essas razões que o futebol italiano não quer que seu melhor volante pendure as chuteiras tão cedo. “Não sei quando e onde vou encerrar minha carreira. Neste momento, penso somente em jogar, pois me sinto bem e me divirto muito com meus companheiros de clube”, diz. “Para dizer a verdade, não sou do tipo que se preocupa com o que pode se passar com minha vida profissional. Por exemplo, a vontade de jogar no futebol inglês foi um sonho que nunca se concretizou. Hoje sou um jogador da Juventus e só penso no meu time”, afirma Pirlo. Mas o Milan continua pensando nele.

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